Umberto jurava de pé junto, e sua convicção assustava as outras crianças.
- Tia, eu vi um et. - nessa altura a pequena Yara de 6 aninhos já abrira um berreiro e a professora constrangida lhe amparava os soluços.
- Umberto! Não é legal contar mentiras, você está assustando seus amiguinhos. Peça desculpas, e vá se sentar.
- Mas, tia... é verdade ele tinha uma nave e ele abduziu o meu pai.
As crianças estatelaram com o contra argumento de Umberto, que fez a pobre professora perder a paciência e a pequena Yara se estrebuchar no chão.
- Umberto! Vá já para a sala da coordenadora! - O jovem fez beiço, cruzou os bracinhos curtos e for arrastando chinelo para fora da sala.
Enquanto caminhava pelo corredor, a choradeira da sala se intensificava.
- Tia o et vai me pegar! - choramingava o pequeno Augusto apavorado abraçando a professora que a essa altura já estava branca, sem saber oque fazer.
- Tia, o João pegou meu lápis! - exclamava Pedro beliscando o colega.
Umberto, bateu à porta da coordenadora que já estava aguardando alguma interferência ao ouvir berros e choradeira ecoando pelos corredores. A mesma abriu a porta em espanto ao fitar a pequena criança.
- Mas, o que você aprontou agora meu pequeno?
- Nada, dona coordenadora a tia me mandou pra cá porque meu pai foi abduzido por um et.
- Um et? - surpreendeu-se a veterana.
- Sim, um extraterrestre foi na minha casa ontem e levou meu pai na sua nave espacial.
- Meu Deus! Umberto! E agora quem vai vir te buscar na escola? - Dona Iraci entrou na onda do garoto para ver até onde ia a sua mentira.
- O et. - disse o garoto tranquilamente.
- Mas, olha só, Umberto acho melhor não, se não ele vai assustar as outras crianças, você não viu como seus amiguinhos ficaram assustados com sua história?
- Hum... é verdade. - fez cara de pensativo.
- Dona coordenadora, então é melhor a senhora ligar para o meu pai e falar para ele que é melhor o et não vir me buscar.
Dona Iraci estava maravilhada e curiosa com a imaginação do menino, pediu então que a secretária Dona Maristela procurasse o número do pai do rebento.
- Alô? Seu Juracir? Tudo bem? Aqui é a Dona Iraci da escola Santa Helena, estamos ligando para falar sobre o seu filho.
- Aconteceu alguma coisa dona?
- Ele está dizendo que um et abduziu o senhor e que ele virá buscá-lo na escola, o senhor deve entender que esse tipo de história assusta as outras crianças. Acho melhor o senhor ter uma conversa com seu filho quando chegar em casa.
- Ah sim! Entendo. Não se preocupe, pode deixar que eu vou conversar com ele.
- Ah que bom senhor Juracir, não precisa ser muito rígido com ele, acredito que seu filho tenha a imaginação muito fértil, quem sabe ele não venha a ser um artista... não? - Deu uma risadinha no telefone.
- Pois é dona, eu estava até conversando com o et sobre isso, meu filho realmente é bem criativo.
- Hã? o que disse?- fez-se de desentendida, ignorando a possível brincadeira do senhor responsável.
- Olha dona, eu tenho que desligar agora, verei se tem como eu ir buscá-lo, você sabe né, para não assustar as crianças. - Desligou.
Dona Iraci ficou paralisada ao telefone enquanto o menino puxava a barra de sua blusa.
- E ai tia? Ele falou pro et que horas eu saio?
- Umberto! Chega de gracinhas! Vai ficar na minha sala até seu pai vir lhe buscar. Preciso ter uma conversinha muito séria com vocês!
O período termina, as crianças saem saltitando para os braços de seus familiares. Dona Iraci está ocupada observando Umberto e elaborando seu projeto de gestão escolar.
De repente alguém bate a porta.
Ao abrir, Dona Iraci estremece inteira, descolando até sua dentadura. Então, uma gélida e metálica voz diz:
- Oi, eu sou o et, o pai do Umberto não pode vir, então, eu vim buscá-lo.
Umberto dá a mão para a criatura alta, cabeçuda e com grandes olhos negros, que com um gesto teletransporta-os, um grande flash de luz dourada preenche a sala por alguns segundos, e os dois somem.
Dona Juraci infarta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário