domingo, 10 de fevereiro de 2013

Foda-se (Leonardo Luz)

FODA-SE

Sem falsa modéstia – até por que, em mim, toda modéstia é falsa – esse texto vai mudar sua vida.
Eu tive, sim, a pretensão de transformar sua existência de uma maneira jamais vista. Esse texto traz a pessoa amada em sete dias, afasta mal-olhado, olho-gordo, encosto e até aquela música do Sandijunior que não sai da sua cabeça.
Guarde esse texto depois de lê-lo. Com certeza, daqui a algum tempo, no seu casamento, aniversário, noivado ou até no velório de alguém cuja vida tenha sido tocada pela beleza e profundidade desse texto, você vai lê-lo em voz alta e dizer que, agora, sua vida é dividida em duas partes: antes e depois de ter sido tocado por essas palavras.

Pode até usar no convite da formatura, eu cedo os direitos desde que receba um
convitinho. Só – por favor – não o credite ao Veríssimo ou ao Drummond.
Mas – dizia eu – mudar sua vida. Como mudei a minha, e agora divido com vocês. Mudou pra melhor? Bom, pra mim, muito. Pros outros, nem tanto assim. Sabe como é, na vida, no impedimento e na ginecologia é tudo uma questão de ponto de vista. Ficou curioso?
Desato o nó. Em certo momento – e isso pode estar acontecendo com você nesse exato instante – percebi que não tinha mais em minhas mãos as rédeas da minha vida (bonito isso…).

Percebi que as opiniões alheias pontuavam minhas escolhas e me aporrinhavam os ouvidos. Eram palpites sobre minha namorada, meu time, meu cabelo, minha barba, meu boné, minha faculdade, minhas roupas, enfim, sobre tudo. Se metiam em tudo, e eu percebia que, mesmo sem querer, às vezes me deixava levar por essas “opiniões imparciais”.
Foi quando fui tocado por uma luz divina. Abri a janela, e entrou uma luz através da poeira do meu quarto, dando aquele clima de revelação de filme francês. Maravilhado pelo toque do Divino em minha vida, ouvi uma voz grossa, que entoava sem parar: “foda-se, foda-se, foda-se… É isso! Foda-se!! Que se foda!!”

Antes de mais nada, tirei o cd do Ultraje a Rigor do rádio, e sem aquela voz grossa dizendo foda-se pude pensar melhor. A solução é isso! Mandar todo mundo se foder! Em linguagem popular e moderna, tocar o foda-se. Como? Acha difícil?
Acompanha: vai até o painel de controle da sua vida. Foi? Então. Agora, entre esse monte de botões, tem um vermelho, com uma capa em cima, escrito: não aperte. Pois bem, risque isso e escreva em letras pretas: FODA-SE.

Pronto, escreveu? Agora tire devagar a tampa. Fique alguns segundos fitando o botão.

Antes de toda decisão séria, fique parado alguns segundos. Pausa dramática. Dá seriedade ao momento e fica bonito depois no trailer do filme. Agora, respire fundo, olhe pro alto, faça um flashback de toda sua vida antes disso e, sem pena, aperte o botão.
Se quiser ficar mais dramático, diga algo como “seja o que Deus quiser” ou “eu não tinha escolha”. Pronto. Você ligou o foda-se.
Agora, sempre que alguém reclamar do seu cabelo, entoe o mantra: foda-se. “Essa sua namorada não presta”. FODA-SE. “que barba ridícula”. FODA-SE. “Você tem um blogue? Coisa de adolescente”. Nossa… FODA-SE. “Credo! Quanto palavrão num texto só!”. Me desculpa, mas FODA-SE.

Agora que sua vida está mudada, que você e só você escolha o que vai fazer e quando e como e com quem, vou ficar por aqui. Como? Sua vida não mudou? Ahá! Achou que eu ia falar FODA-SE? Ahhahaha!! Pra não decepcionar ninguém, FODA-SE. E vou usar também outro mantra, que tem mais poder do que esse, mas que eu não ensino.
É passado de geração pra geração. “Tô pouco me fodendo.”

(Leonardo Luz)